Inundações no Rio Grande do Sul são teste para Lula, que pode ter seu 'momento Katrina': o que diz a imprensa internacional - BBC News Brasil (2024)

Inundações no Rio Grande do Sul são teste para Lula, que pode ter seu 'momento Katrina': o que diz a imprensa internacional - BBC News Brasil (1)

Crédito, Governo do Brasil

As inundações no Rio Grande do Sul — que provocaram mais de cem mortes e vem afetando milhões de gaúchos — serão um dos momentos definidores da Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, segundo análise da agência Bloomberg.

Nos últimos dias, vários veículos da imprensa internacional destacaram as enchentes no sul do Brasil.

A análise da Bloomberg fala em "teste crucial para a liderança de Lula".

"Os assessores [de Lula] dizem que ele está perfeitamente consciente de que este pode ser o seu 'momento Katrina', uma referência ao furacão de 2005 que pegou o presidente dos EUA, George W. Bush, desprevenido e entrou no vocabulário global como sinônimo de fracasso de liderança em uma crise", afirma o texto da Bloomberg, assinado por Travis Waldron.

A agência disse que Lula reagiu às enchentes com atendimento às necessidades básicas dos afetados, viajando à região e assinando um decreto que retira os gastos emergenciais das regras fiscais.

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"Com mais chuva e temperaturas em queda previstas durante a semana, os desafios só vão aumentar", diz o texto da Bloomberg.

"Isso pode dar a Lula a oportunidade de recuperar uma presidência assolada nos últimos meses por rivalidades internas, brigas com o Congresso, escrutínio do mercado sobre os seus planos de gastos e popularidade em declínio."

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A Bloomberg diz que Lula foi eleito na esteira da insatisfação da população com a gestão do governo de Jair Bolsonaro durante a pandemia de covid-19 — e que este momento das enchentes pode definir se Lula vai reconquistar sua liderança no país, ou perdê-la de vez.

O jornal britânico Financial Times destacou o prejuízo financeiro do Estado — estimado na ordem de R$ 5 bilhões.

"O Rio Grande do Sul é a quinta maior economia do Brasil e é um importante produtor agrícola e um centro industrial", diz a reportagem de Bryan Harris e Michael Pooler.

"O Estado é responsável por 70% da produção nacional de arroz, e acredita-se que 10% tenham sido perdidos devido às cheias. Prevê-se também que 30% da colheita de soja do Estado, de 21 milhões de toneladas, pereça. Lula disse que o Brasil importará arroz e feijão do exterior para evitar a escassez de alimentos."

O texto também cita críticas do professor Pedro Luiz Cortês, da USP, às autoridades brasileiras: "Os governos estadual e federal estavam mal preparados para essas emergências climáticas".

'Dívida histórica'

Inundações no Rio Grande do Sul são teste para Lula, que pode ter seu 'momento Katrina': o que diz a imprensa internacional - BBC News Brasil (2)

Crédito, DIEGO VARA / REUTERS

Na quarta-feira (8/5), dia em que o número oficial de mortos chegou a cem, o jornal americano New York Times publicou uma reportagem chamada, em tradução livre, "Imagens de uma cidade brasileira embaixo d'água" — com fotos e relatos das pessoas afetadas.

"O Brasil está enfrentando uma das piores enchentes da história recente. Chuvas torrenciais inundaram o Estado do Rio Grande do Sul, no sul do país, onde vivem 11 milhões de pessoas, desde o final de abril e provocaram graves enchentes que inundaram cidades inteiras, bloquearam estradas, romperam uma grande barragem e fecharam o aeroporto internacional até junho."

A reportagem de Ana Ionova e Tanira Lebedeff narra o drama de alguns dos afetados que conseguiram ser resgatados.

"Muitos dos que ficaram isolados aguardavam ajuda nos telhados. Alguns tomaram medidas desesperadas para fugir: quando o abrigo onde sua família estava inundada, Ana Paula de Abreu, 40 anos, nadou até um barco de resgate enquanto segurava seu filho de 11 anos debaixo do braço. Dois moradores de um bairro de Porto Alegre usaram um colchão inflável para retirar pelo menos 15 pessoas de suas casas inundadas."

O New York Times cita Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília, que diz que "os efeitos do El Niño [nas inundações no Rio Grande do Sul] foram exacerbados por uma combinação de alterações climáticas, desmatamento e urbanização desenfreada".

Em entrevista à BBC News Brasil, Bustamante disse que a região agora afetada é uma área "onde vamos viver muito mais extremos, segundo os modelos climáticos".

O Washington Post, principal jornal da capital americana, também noticiou as enchentes.

"Mesmo em um país cada vez mais habituado a desastres naturais provocados pelas alterações climáticas, as inundações que engoliram o Rio Grande do Sul — um dos Estados mais desenvolvidos e prósperos do Brasil — abalaram gravemente esta nação de 215 milhões de habitantes. Com mais da metade das cidades do Estado enfrentando enchentes [...], o Rio Grande do Sul não foi apenas afetado. Foi arrasado."

A reportagem de Terrence McCoy e Marina Dias diz que, apesar de alertas sobre os efeitos das mudanças climáticas feitos por alguns políticos e cientistas brasileiros, "a retórica produziu poucas mudanças concretas".

"Em um comentário feito exclusivamente ao The Washington Post, Lula atribuiu a devastação no Rio Grande do Sul às falhas da comunidade global em responder às mudanças climáticas. Ele disse que existe uma 'dívida histórica'. Os países mais pobres que historicamente emitiram poucos gases com efeito de estufa, disse ele, estão sofrendo com a poluição das nações mais ricas."

Lula disse ao Washington Post: "Esta foi a terceira enchente recorde na mesma região do país em menos de um ano. Nós e o mundo precisamos nos preparar todos os dias com mais planos e recursos para lidar com eventos climáticos extremos.”

Inundações no Rio Grande do Sul são teste para Lula, que pode ter seu 'momento Katrina': o que diz a imprensa internacional - BBC News Brasil (2024)

FAQs

O que causa as inundações no Rio Grande do Sul? ›

“A cada tempo, há chuvas extremas que causam enchentes”, completou. Desta vez, contudo, ocorreu no estado a enchente mais forte de toda a história, que ele atribui, em parte, à mudança climática causada pelo excesso de gás carbônico na atmosfera. “Essa é a parte natural do evento”.

O que causou a enchente no Rio Grande do Sul em 2024? ›

Histórico meteorológico. Um bloqueio atmosférico causado por um sistema de alta pressão atmosférica no Centro-Sul do Brasil impediu o deslocamento de sistemas meteorológicos típicos (ciclone extratropical, frente fria, cavado) que causam precipitações.

Quando começou o alagamento no Rio Grande do Sul? ›

A chuva fina e persistente, típica de outono no extremo-sul do Brasil, começou no dia 27 de abril e logo se transformou em enxurrada, provocando alagamentos generalizados em diversos municípios gaúchos até virar a pior enchente da história do Rio Grande do Sul desde 1941.

Quais são as causas das inundações nos rios? ›

Algumas causas que contribuem para esse evento são o desmatamento de encostas; assoreamento dos rios; acúmulo de lixo nos bueiros e rios; insuficiência da rede de galerias pluviais; e pavimentação de ruas e construção de calçadas, reduzindo a superfície de infiltração.

Quais as cidades atingidas no Rio Grande do Sul? ›

Prefeituras de SC 'adotam' cidades do RS atingidas pelas enchentes para reconstrução; entenda
  • Bombinhas – Eldorado do Sul (RS)
  • Timbó – Rolante (RS)
  • Chapecó - Arroio do Meio (RS)
  • Xanxerê - Imigrante (RS)
  • Blumenau - Lajeado (RS)
  • Porto União – Igrejinha (RS)
  • Pomerode – Cruzeiro do Sul (RS)
  • Joinville - Guaíba (RS)
2 days ago

Quantas cidades afetadas no Rio Grande do Sul? ›

De acordo com o ministro, há 445 municípios afetados no estado; 71.398 pessoas em abrigos; 339.928 desalojados; 74.153 ações de salvamento de pessoas; 136 óbitos; 756 feridos; 125 desaparecidos; e 135 bloqueios em vias.

Quantas pessoas morreram na enchente de 1941 no Rio Grande do Sul? ›

Temporais no RS

As chuvas que atingem o estado já deixaram 100 mortos, 130 desaparecidos e 374 feridos, segundo o último boletim da Defesa Civil divulgado nesta quarta-feira (7).

Quantos metros chegou a enchente do Rio Grande do Sul? ›

Imagens de satélite mostram o impacto da cheia histórica no Rio Grande do Sul. A cota máxima do Guaíba foi registrada em 4 de maio, quando os medidores alcançaram 5,35 metros. O recorde anterior era da enchente de 1941, quando o nível do rio alcançou os 4,74 metros.

Quantas pessoas morreram na enchente do Rio Grande do Sul? ›

O último balanço da Defesa Civil sobre os impactos das chuvas no Rio Grande do Sul mostra que o estado tem, até o início da tarde desta quarta-feira (15), 149 pessoas mortas e 108 desaparecidas.

Qual foi a altura da enchente de 1983 em Rio do Sul? ›

O nível recorde da enchente em Rio do Sul foi atingido às 0h40 deste sábado com 13,04 metros, só ficando atrás da grande enchente de 1983, quando o rio ficou em 13,58 metros.

Qual foi a maior enchente da história do Rio Grande do Sul? ›

A enchente de 1941

Consequentemente, aconteceu a elevação do nível dos rios do estado. Segundo o museu Joaquim Felizardo, o nível do Guaíba chegou a marca de 4,75 metros — de acordo com a CNN, algumas publicações falam até em 4,76 metros. Cerca de 70 mil pessoas ficaram desabrigadas.

Quantas pessoas desapareceram no Rio Grande do Sul? ›

O número de desaparecidos chega a 134. A Defesa Civil orienta a quem encontrar o nome na lista de desaparecidos buscar a Delegacia de Polícia Civil mais próxima para regularizar os dados e solicitar a retirada do nome da lista.

O que pode ser feito para evitar inundações? ›

Como combater as enchentes?
  1. Construção de sistemas eficientes de drenagem;
  2. Desocupação de áreas de risco;
  3. Criação de reservas florestais nas margens dos rios;
  4. Diminuição dos índices de poluição e geração de lixo;
  5. Planejamento urbano mais consistente.

Qual é a diferença entre inundação e alagamento? ›

São afetadas as pessoas que moram nas várzeas dos rios (principalmente quando eles estão canalizados, abaixo do nível do asfalto). Inundação: é caracterizada pelo transbordamento de forma generalizada da água na planície de um rio. Alagamento: é a água parada localizada, comum nas regiões urbanas.

O que devemos fazer em caso de inundações? ›

– Enterre animais mortos e limpe os escombros e lama deixados pela inundação; – Lave e desinfete os objetos que tiveram contato com as águas da enchente; – Veja se sua casa não corre o risco de desabar; – Cuidado com aranhas, cobras e ratos, ao movimentar objetos, móveis e utensílios.

Como foi a enchente de 1941 no Rio Grande do Sul? ›

Em 1941, a capital gaúcha enfrentou um alagamento histórico, que deixou cerca de 70 mil pessoas desabrigadas. Na ocasião, o nível do Guaíba, cuja cota de inundação é de 3 metros, chegou a uma altura entre 4,75 e 4,76 metros, segundo registros da época.

Como está o Rio Grande do Sul nesse momento? ›

Trégua nas chuvas, frio intenso e mais chuva na quinta: a previsão do tempo para o Rio Grande do Sul.

Quantos metros subiu no Rio Grande do Sul? ›

Caso a projeção se confirme, as águas que tomam conta da capital gaúcha vão superar em 25 centímetros o recorde registrado em 4 de maio, quando os medidores chegaram a 5,35 metros. O recorde anterior era da enchente de 1941, quando o nível alcançou os 4,76 metros.

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